Turismo acessível é chance de dignidade para 45 milhões de brasileiros
Quando se fala em turismo acessível, quais são as iniciativas que vêm à cabeça? Algumas rampas nas calçadas, banheiros equipados e preferência nas filas, talvez sejam os pontos mais conhecidos – e claro, tudo isso faz parte. Mas o fato é que acessibilidade no Brasil nunca foi uma necessidade para poucos: 45,6 milhões de cidadãos brasileiros, ou 24% da população brasileira à época da pesquisa do IBGE (2010), apresentam algum grau de deficiência.
Isso quer dizer que nada menos que uma a cada quatro pessoas precisam de algum tipo de apoio para poderem interagir na sociedade mantendo sua dignidade. Os cadeirantes entram nessa estimativa, mas o número não se restringe a eles. Pessoas com mobilidade reduzida, portadoras de deficiência visual ou auditiva, idosos, crianças, obesos e até mesmo pessoas de baixa estatura necessitam um equipamento turístico bem preparado – e pensado – para recebê-los.
Não é exagero dizer que oferecer tal suporte é uma responsabilidade social de governos e da iniciativa privada, além de ser uma obrigação para um destino tornar-se, de fato, acessível.
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Mas, afinal, o que é um destino acessível?
Um destino acessível é aquele que oferece a todos uma condição digna de desbravá-lo, não importa sua condição física e mental. E acredite, isso é possível! Cada vez mais cidades têm se adaptado para tornarem-se inclusivos para os que necessitam apoios especiais.
O ideal é que eles sejam capazes de realizar as mesmas atividades que turistas sem limitações consigam fazer. Claro que isso não é viável em 100% dos casos, mas é possível – e necessário – desenvolver experiências inclusivas como alternativa.
A boa notícia é que exemplos brasileiros de destinos acessíveis têm se destacado mundo afora. Socorro/SP é um deles: mesmo sendo focados em esportes radicais e atividades na natureza, ambos conseguiram oferecer condições ideais para todos desfrutarem de uma experiência prazerosa, não importa qual dificuldade ele apresente.
Passo a passo para ser acessível
Tornar-se um destino acessível não é uma mudança que se faça do dia pra noite. A primeira tarefa é ter uma boa parceria entre o poder público e as instituições privadas – um sem o outro não vai para lugar algum.
Políticas Públicas
Dentre as políticas públicas obrigatórias estão aquelas que possibilitem uma boa acessibilidade urbana para todos. Rampas e banheiros bem equipados para cadeirantes, faróis de pedestres com dispositivos sonoros e calçadas com piso tátil para os deficientes visuais, por exemplo, entram na lista.
Mas o apoio para o viajante em si vai além disso. Centros de informações turísticas com funcionários fluentes em libras e desenvolver guias turísticos impressos em braile são ações que o poder público pode tomar para tornar sua cidade mais apta a receber visitantes. Trilhas sensoriais e com estrutura para pessoas com mobilidade reduzida nos parques nacionais também são boas opções para oferecer experiências de natureza inclusivas, até mesmo para cadeirantes e deficientes visuais.
Poder privado
Contar com hotéis que disponham de acessibilidade para cadeirantes e adaptações para deficientes visuais é o primeiro passo para uma cidade ser acessível. O bom é que, desde 2018, acessibilidade no Brasil virou um papo sério quando se pensa em hotelaria: um decreto presidencial daquele ano impôs que todos os novos empreendimentos hoteleiros devem ter ao menos 5% de suas habitações adaptadas para cadeirantes, enquanto todas as demais deve ser devidamente adaptadas para outras necessidades especiais.
Obviamente, porém, o turismo vai muito além da hospedagem – afinal, o que vale em uma viagem é a experiência. E é por isso que, no âmbito privado, aqueles que mais podem usar o poder da criatividade para acolher os portadores de alguma deficiência são as empresas que oferecem passeios turísticos.
Desenvolver tours com acessibilidade para todos é uma missão desafiadora, mas certamente conta com um enorme potencial, mais especificamente, um de 45 milhões de brasileiros.
Talvez uma das tarefas mais complicadas seja a de criar passeios em meio a natureza capazes de receber qualquer tipo de visitante, incluindo aqueles com limitações especiais. Difícil sim, mas não impossível, e os casos a seguir comprovam isso:
Por que o Turismo em Socorro é um exemplo a ser seguido
De 15 anos para cá, o Turismo em Socorro mudou. Lar de esportes de aventura e buscado por amantes de adrenalina de todo o país, a cidade a 130 km de São Paulo hoje é um dos locais mais preparados para atividades como canoagem, rafting, rapel, triciclo, arvorismo, boia-cross, tirolesa… Tudo que o terreno montanhoso, com florestas, cachoeiras, cavernas e rios da Serra da Mantiqueira pode oferecer, você encontra por lá.
Mas, calma: a gente não parou de falar de acessibilidade. Mesmo tendo esse foco aventuresco, a cidade superou entraves e encontrou o caminho para tornar-se acessível. A ONG Aventura Especial, uma das grandes responsáveis por essa quebra de barreira “acessibilidade X aventura”, topou o desafio e, durante as duas últimas décadas, tem desenvolvido modalidades de turismo esportivo especialmente para pessoas com necessidades especiais.
Hoje, deficientes visuais, pessoas com mobilidade reduzida e até cadeirantes podem encarar atividades radicais nos arredores da pequena cidade do interior paulista. Uma escolha certeira é visitar o Parque dos Sonhos, no Vale do Rio Cachoeirinha. Dependendo do grau de limitação do viajante, são até 14 possibilidades de atividades em meio à natureza no local, lista que conta com escalada, rafting e passeios de quadriciclo.
Trilhas sensoriais, praias adaptadas: opções acessíveis para todos os gostos
Trilha da nascente, Jardim Botânico de São Paulo
Pertinho do paulistano há uma ótima opção para cadeirantes ou pessoas com mobilidade terem um contato com a natureza. É lá no finalzinho do Jardim Botânico de São Paulo que começa a Trilha da Nascente, uma passarela de madeira com 360 metros de extensão que serpenteia um fragmento de floresta nativa da Mata Atlântica – a diversidade da flora local é o ponto alto do passeio.
Trilha da Vida, Parque Ecológico do Guarapiranga
Que tal fazer uma trilha de olhos vendados, onde sentidos como olfato, tato e audição tomam conta? Essa é a curiosa e instigante proposta da Trilha da Vida, no Parque Ecológico do Guarapiranga. A caminhada, livre tanto para deficientes visuais quanto para turistas que só querem curtir a experiência, te leva para uma viagem de ruídos, cheiros e sensações na mata ao redor da Represa Guarapiranga.
Trilha Sensorial, Parque Ecológico Imigrantes
Construída especificamente para oferecer acessibilidade para deficientes e pessoas com mobilidade reduzida, a Trilha Sensorial, do Parque Ecológico Imigrantes, é mais uma que propõe colocar os sentidos à prova. Enquanto cadeirantes podem percorrê-la sem maiores problemas, deficientes visuais tem a chance de ter uma bela experiência auditiva: uma passarela leva o visitante à oito metros de altura, onde os sons de pássaros e o vento nas árvores são os protagonistas.
Praia de Pitangueiras, Guarujá
Essa é para o cadeirante: você oficialmente pode entrar no mar com sua própria cadeira-anfíbia. Gostou da ideia? Quem surgiu com ela foi a prefeitura do Guarujá, SP, com o projeto Praia Acessível. Ele fornece cadeiras especiais, com rodas mais largas, para que o portador de deficiência física possa passear pela praia de Pitangueiras. Para utilizar o serviço gratuito, basta se cadastrar na Praça da Bandeira, no centro da cidade
Praia de Ondina, Salvador
Seguindo a mesma onda do Guarujá está a prefeitura de Salvador. O projeto “Para Praia” oferece banho de mar assistido para cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida, mais uma boa ideia para desenvolver a acessibilidade no Brasil. Alunos e professores da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública das áreas de fisioterapia, medicina, biomedicina, educação física e enfermagem auxiliam os participantes do projeto, que também contam com cadeiras anfíbias e acessórios flutuantes.
Praia Porto de Galinhas, Ipojuca
Que tal um mergulho com as cadeiras anfíbias no meio de uma piscina natural no paraíso pernambucano de Porto de Galinhas? No projeto Praia sem Barreiras, monitores levam os cadeirantes para banhos de mar em um dos destinos mais requisitados do nordeste brasileiro, localizado na praia de Ipojuca, RN.
Opine!
Citamos belos exemplos de como desenvolver destinos acessíveis no Brasil é possível. Seja em praias, trilhas ou até mesmo em esportes radicais, projetos ao redor do país buscam incluir essa parcela significativa da população para o merecido prazer de viajar e desfrutar da melhor experiência possível!
Mas é claro, como tudo no mundo, ainda há muito o que melhorar. E você? Já viajou para destinos com bons projetos de acessibilidade? Alguma sugestão de adaptações para deficientes? Alguma dica para nossos governantes e empreendimentos turísticos atender melhor esse público? Deixe sua opinião nos comentários!